segunda-feira, maio 26, 2014

Nikopolidis, o outro.

segunda-feira, maio 26, 2014


Em 2004, Antonio Nikopolidis ganhou um Europeu de futebol. Dez anos depois, ganha umas as eleições, não as Europeias mas as Autárquicas, sob o comando de Yannis Moralis, vice-presidente do Olympiakos e cabeça de lista do partido Pireas Nikitis (“Pireu Vencedor”).

Dizem que é parecido com George Clooney. Talvez seja do cabelo grisalho, que lhe despontou desde muito cedo, quando ainda defendia a baliza do Olympiakos, e a política nada era mais do que uma realidade distante. Nikopolidis está habituado, de certa forma, a ser “o outro” ‐ como na relação que lhe atribuem ao actor norte-americano‐, uma figura secundária mas igualmente competente: vive na sombra de Angelos Charisteas, para sempre o nome e o rosto da vitória grega no Europeu de 2004 em Lisboa, mas foi ele quem por um par de ocasiões deu o corpo às bolas, impedindo os golos de Cristiano Ronaldo e Ricardo Carvalho. 

Em 2004, a epopeia futebolística da Grécia fez jus a uma série de improváveis e impossíveis, mas foi de alguma forma a afirmação física de que a História é “uma sucessão sucessiva de factos que se sucedem sucessivamente no tempo”. As metáforas e comparações com a Grécia Antiga são óbvias e foram gastas nos títulos da altura, mas são necessárias novamente, numa altura em que o país helénico procura renascer das cinzas, vítima de uma economia e de um sistema de crédito que de si se apoderou. 

Em Abril, o Olympiakos conquistou o seu 41o título de campeão nacional. Ao mesmo tempo que a equipa conseguia o seu quarto campeonato consecutivo, o nono nos últimos dez anos, Yannis Moralis, o vice-­presidente do clube, anunciou a criação de um novo partido político, do qual seria líder. Nikopolidis é uma das figuras emblemáticas do desporto grego que se associa a este novo movimento, no qual assume cargos de chefia como membro “dos jotas” lá do sítio. 

Nikopolidis é novamente “o outro”, uma figura menor, em 2014 como em 2004, mas que pretende fazer algo pelo seu país, como então. Poderia dizer-­se, antes, como lhe parece estar destinado. Há quem o compare a uma espécie de gladiador, daqueles cujos nomes nunca darão canções, mas que são os primeiros da frente na linha das batalhas. Certos ou errados, dão sempre um passo em frente. Diz-­se que a Democracia nasceu na Antiga Grécia e que a nova, um modelo que quebrará com a política actual, terá que de lá vir também, nascendo da dor de um povo demasiado massacrado. Porém, há quem, pensando que assim será, não concorde com as ideias defendidas pelo novo partido. 

O surgimento de Pireas Nikitis é parte de uma tendência mais ampla de desagregação e realinhamento na política grega, pretendendo afastar-­se das medidas estabelecidas pelos partidos tradicionais e das políticas ditadas pela troika, a União Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional. 

Tem existido alguma dificuldade em enquadrar a ideologia política que rege as promessas e medidas do Pireas Nikitis, ainda que o adversário de Moralis, Mihaloliakos, o tenha acusado de ser próxima à da extrema-­direita. Os ultras mais fundamentalistas do Olympiakos, da famosa “Porta Sete”, foram sempre associados ao partido neo-­nazi Aurora Dourada, mas Mihaloliakos acredita que estes formem agora parte da massa votante do novo partido do seu vice-­líder.

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