terça-feira, março 05, 2013

O outro Léo.

terça-feira, março 05, 2013


1. Não é Messi, é simplesmente Léo. Pela pureza, porque o mundo ainda pouco o conhece, pelo talento que também lhe dança nos pés. Talvez a comparação seja até ofensiva, talvez inicie e termine apenas no nome próprio. É demasiado cedo para se saber, como aos vinte anos se é demasiado novo para saber algo sobre qualquer coisa. A verdade, no entanto, grita como um raio numa noite escura e silenciosa: há em Léo Baptistão algo de craque que não mente, uma diferença genial por entre os operários, os carregadores do piano, os típicos jogadores que levam a equipa às costas muito pela força e pouco pelo jeito.

2. Tanto do que aprendeu o brasileiro vem da escola de outro pequeno cometa estrelar, de um desses jogadores que apenas por existir já encanta - até num dia mau, se calhar mais do que nunca num dia mau, por se lhe sentir tanto a falta. Léo nasceu para o futebol através do futsal, metáfora de talento como o são de segredos as bonecas matrioskas, revelando camada a camada o seu interior, aquilo com que podemos contar. Léo cresceu no seu futebol lado a lado com Neymar, e o seu jogo em tanto parecido, de recortes, de espaços curtos, onde sacar o coelho da cartola no momento mais improvável é tão impossível quanto certo, faz suspirar os adeptos em Vallecas; bairro pobre de gente humilde, com a fama e talvez o proveito de perigoso, onde o habitual é ver-se apenas os serviços mínimos. 

3. Órfãos do seu goleador da última temporada, as gentes do Rayo Vallecano fechavam os olhos perante a certeza camuflada de uma descida anunciada ainda antes de o campeonato começar. Mais com o coração do que com a cabeça, quiseram acreditar no milagre, e ele chegou. Chegou tomando formas inesperadas, encarnando num jogador que tem tanto de alto como de franzino, que prometia não se sabia muito bem o quê depois de constantes lesões ainda em idade de júnior. Olhando agora à distância para Agosto, o mês em que tudo começou, os 15 golos que este Verão levaram Michu ao Swansea parecem quase irrisórios, uma memória bonita mas insuficiente. Léo não é ponta de lança, mas depois de apenas seis meses na Liga Espanhola, temporada de estreia após adiada ter ficado a glória no último ano, leva já sete na conta pessoal, números aos quais se juntam doze assistências. Num clube que quase sempre milita na zona baixa da tabela, no campeonato mais competitivo do mundo. Num clube que, agora, arranha a concorrência e espreita a Europa dos melhores. 

4. Léo não é obviamente um projecto acabado. Falta-lhe músculo - como disse Maradona um dia, isso consegue-se num ginásio - mas sobra-lhe talento. É bom com os pés, também o é de cabeça; e com a cabeça. Maduro e humilde, sabe que ainda nada conquistou. Tem uma inocência que lhe tira o medo, que ainda o obriga a fintar antes de pensar, que o faz perder a bola que, entregue a um companheiro um segundo antes, se transformaria em golo certo. Tem também idade para aprender e, sobretudo, para errar, na certeza de que, bem acompanhado, cedo ou tarde deixará de ser "o outro Léo" para ser ele próprio, com direito e assinatura firmada, na constelação única a que só pertencem os predestinados. Oxalá o tempo lhe seja amigo, que tanta falta nos fazem os jogadores assim.

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